Após 20 anos, Recife realiza a 2ª Conferência Municipal de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora
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No último dia 15 de abril, o Recife sediou a 2ª Conferência Municipal de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora (2ªCMSTT), retomando o debate sobre a saúde da classe trabalhadora após duas décadas. O evento aconteceu no Centro de Eventos Recife, na Imbiribeira, e reuniu usuários(as), trabalhadores(as) da saúde, trabalhadores(as) informais, gestores(as), além de observadores(as) e convidados(as), em um espaço de construção coletiva e democrática.

A abertura da conferência foi marcada por uma apresentação especial da Orquestra da Pró-Criança do Recife, que encantou o público presente e deu início aos trabalhos com sensibilidade e potência cultural.

Contando com a participação de mais de 260 pessoas, o objetivo do encontro foi discutir os desafios e avanços necessários para fortalecer as políticas públicas voltadas à saúde dos trabalhadores e trabalhadoras da cidade. A presença de figuras importantes do setor, como a secretária de Saúde do Recife, Luciana Albuquerque, reforçou a relevância do evento no atual cenário da gestão do trabalho e da saúde.
Para a secretária Municipal de Saúde do Recife, Luciana Albuquerque, “a 2ª Conferência Municipal de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora marca a retomada de um debate essencial após duas décadas. Estamos aqui para reafirmar nosso compromisso com políticas públicas que cuidem de quem sustenta nossa cidade, os trabalhadores e trabalhadoras. Este é um marco de escuta, ação e transformação coletiva, para que a saúde do trabalhador seja, de fato, uma prioridade nas políticas públicas do Recife”, contou Luciana.

A vice-coordenadora do CMS-Recife, Carmela Alencar, destacou, em sua fala, os desafios enfrentados pelo Conselho no processo de construção da conferência: “Foi um grande esforço organizar duas conferências simultâneas, em um contexto de muitas demandas e ainda com o processo eleitoral do Conselho Municipal de Saúde do Recife em curso. Um dos maiores desafios foi garantir a participação ativa de todos e construir propostas verdadeiramente inclusivas, que não se limitassem apenas aos trabalhadores da saúde, mas que contemplassem todas as categorias, de forma ampla, equitativa e justa”, falou Carmela.

Já Sônia Pinto, presidente do Conselho Estadual de Saúde de Pernambuco e também integrante do CMS-Recife, ressaltou a importância do momento: “Esta conferência é estratégica para debatermos políticas que garantam, com urgência, condições de trabalho digno e a promoção da saúde de toda a classe trabalhadora do município. A etapa municipal é um passo fundamental para a consolidação de uma política pública voltada à saúde integral dos trabalhadores e trabalhadoras, inclusive com a ampliação de serviços como os CERESTs, que qualificam o acesso e a prevenção de agravos”, concluiu Sônia.

Representando a Superintendência Regional do Trabalho e Emprego de Pernambuco, a Sra. Patrícia dos Anjos, da área de Políticas Sociais, reforçou a importância da articulação entre diferentes setores: “É essencial que esse debate seja feito em rede, de forma articulada, trazendo a transversalidade e a contribuição dos profissionais de todas as áreas. Precisamos formular propostas reais, aplicáveis, que saiam do papel e façam a diferença na vida dos trabalhadores. Essa conferência é uma oportunidade valiosa para somarmos forças e enfrentarmos, juntos, os desafios sanitários, de gestão, educação e tantos outros que afetam a classe trabalhadora”, destacou Patrícia.

O superintendente estadual do Ministério da Saúde em Pernambuco, Rosano Carvalho, expressou sua preocupação com a classe trabalhadora: “Estamos falando de uma classe trabalhadora extremamente diversa, que inclui desde trabalhadores rurais e urbanos com carteira assinada até os chamados ‘empreendedores’, como motoristas e entregadores por aplicativos, que muitas vezes enfrentam jornadas exaustivas de 12 a 14 horas por dia, arriscando suas vidas. É fundamental que esta conferência reconheça essa complexidade e fortaleça a Rede Nacional de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora, para que possamos garantir políticas públicas efetivas, inclusivas e que cheguem a todos”, disse Rosano.

Gabriela Maciel, representante do Ministério Público de Pernambuco, destacou a importância da prevenção e do investimento em políticas públicas para a saúde do trabalhador: “Trabalhar com prevenção é o melhor caminho. Estamos falando de vidas, de direitos garantidos constitucionalmente, e também de um impacto econômico significativo. Em 2021, as despesas previdenciárias com aposentadoria por invalidez chegaram a 30,6 bilhões de reais, acumulando um total de 545,7 bilhões. Esses números mostram o quanto é urgente agir antes que os danos aconteçam.” Concluiu Gabriela.

A conferência também contou com a palestra de José Lopes, psicólogo e técnico em segurança do trabalho, que abordou a temática “Estressores e Assédio no Trabalho e seus Impactos na Saúde Mental”. Em sua fala, José destacou a importância de transformar a dor em resistência e o luto em luta, chamando atenção para a necessidade de reconhecer o trabalhador como sujeito de direitos. Ele compartilhou experiências acumuladas ao longo de seus 42 anos de atuação no Centro de Estudos do Ministério do Trabalho e reforçou que saúde mental no ambiente laboral deve ser tratada com seriedade, prevenção e compromisso coletivo.

Após esses momentos, os(as) participantes foram divididos(as) em quatro Grupos de Trabalho para debater e aprovar as propostas que foram elencadas durante o processo de inscrição dos(as) delegados(as), disponibilizado no site oficial da 2ª Conferência Municipal de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora. Ao todo, foram aprovadas 12 propostas, três em cada eixo temático, que seguirão para as próximas etapas da 5ª Conferência Nacional de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora.




Ao final de todos os processos de construção coletiva da 2ªCMSTT, também foi realizada a eleição para escolha dos(as) representantes que participarão da etapa Macrorregional da 5ª Conferência Estadual de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde. Foram eleitos(as) quatro (04) representantes do segmento Usuário(a) e dois (02) do segmento Trabalhador(a) que, juntamente com a indicação de dois(as) gestores(as) participantes da 2ªCMSTT, levarão as propostas construídas no município para os próximos debates em nível estadual/nacional.


A retomada desse espaço, após 20 anos, marca um passo importante na valorização do controle social e na luta por melhores condições de trabalho e saúde para quem sustenta os serviços públicos e privados da cidade.
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